O pomar das almas perdidas, Nadifa Mohamed
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Sinopse: Hargeisa,
segunda maior cidade da Somália, 1987. A ditadura militar que está
no poder faz demonstrações de força, mas o vento que sopra do
deserto traz os rumores de uma revolução, e em breve, pelos olhos
de três mulheres, vamos assistir ao mergulho do país em uma
sangrenta guerra civil.Aos 9 anos, atraída pela promessa de ganhar
seu primeiro par de sapatos, a menina Deqo deixa o campo de
refugiados onde nascera. Em circunstâncias dramáticas, conhece
Kawsar, uma viúva que logo em seguida é presa e espancada por
Filsan, uma jovem soldado que deixara a capital para reprimir a
rebelião que crescia no norte. Intimista, singelo e poético, O
pomar das almas perdidas nos lembra de que a vida sempre continua,
apesar do caos e do sofrimento.
Olá
amigos leitores! Tudo bem com vocês? Estou aqui hoje para falar um pouco deste
maravilhoso livro que é O pomar das Almas Perdidas, de Nadifa
Mohamed. Quando li a sinopse dele, foi como prever um desafio.
Imaginem uma história de mulheres, escrita por uma mulher e que tem
como cenário a Somália de 1987, em plena eclosão de uma guerra
civil. Imaginaram? Pois bem, eu encarei este desafio e confesso não
ter me arrependido. É uma história de cortar o coração, mas ao
mesmo tempo um banho de esperança e fé, em dias tão tenebrosos
como tem sido os nossos. Mas, vamos à história?
O
Pomar das Almas Perdidas nos
apresenta três mulheres bem diferentes: Kawsar, Deqo e Filsan.
Kawar é uma mulher idosa e que perdeu o marido e a filha – que se
suicidou após sofrer abusos sexuais brutais. Solitária e amarga,
ela tem pavor do regime de governo. Deqo é uma garota de 9 anos, que
foi abandonada pela mãe e tem que conviver com toda a “má fama”
deixada pela mesma. Ela vive em um campo para refugiados. Filsan é
uma mulher com cerca de 30 anos, soldado do exército da Somália e
que traça os mesmos caminhos do pai, que também era militar.
Essas
mulheres nos são apresentadas no começo da narrativa e estão
unidas, sem ao menos se conhecerem, no mesmo local. Deqo está pela
primeira vez visitando a cidade grande e encantada com tudo o que vê,
Filsan está cumprindo a sua função de policial, com o objetivo de
controlar qualquer revolta e Kawar está lá representando uma das
mães que perderam seus filhos. Neste momento acontece um evento em
que as três personagens se encontram. A partir daí, o livro é
dividido em três partes onde a autora vai contar um pouco da
história de cada personagem e no final, o destino que novamente as
unirá.
Fica
difícil descrever com palavras a forma como a autora escreve. Ela é
poética, mas ao mesmo tempo, objetiva. Suave, mas ao mesmo tempo,
pungente. O cenário é a guerra, mas ela consegue falar de esperança
e luta de uma forma tão sublime, tão fecunda, tão original. A
maneira como os personagens são caracterizados os aproxima muito do
leitor. Nadifa faz isso com muita maestria, pois vai desvendando a
personalidade de cada um, seus sentires, seus questionamentos, ao
longo da narrativa. E quando menos se espera estamos nós ali como se
os conhecêssemos, tamanho é o encontro proporcionado pela escrita
da autora.
Aliado
à história pessoal de cada uma dessas mulheres, Nadifa nos mostra a
cultura e a paisagem da Somália de uma forma bem natural. As
palavras terminam sendo como janelas, por onde vamos desvendando
certas cortinas e vendo um retrato de um país tão esquecido por
nós, assolado pela guerra e por tudo que ela traz consigo.
Destaca-se também a força por trás destas personagens, sua coragem
e independência. São mulheres que não se curvam diante das
adversidades, muito menos diante dos homens. São mulheres que
percebem o perigo de ser quem são em um mundo como o nosso. São
mulheres muito diferentes, mas que percebem que se igualam por serem
mulheres, por serem fortes e por terem esperança.
Apesar
da realidade dura de uma guerra, marcada pelas mortes e pelo
sofrimento, O
Pomar das Almas Perdidas ressalta
em suas páginas a sensibilidade e a coragem de suas personagens e
traz ao leitor um convite para refletir e se questionar, sendo a
história um espelho majestoso de uma realidade com a qual não
costumamos nos ocupar e nem sequer saber de sua existência. É um
livro para ser lido e relido. Para ser sentido e pensado. Para se
saber, com toda força e esperança.
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