O pedido de desculpas, de Eve Ensler
Olá, amigos leitores! Tudo bem
com vocês?
Hoje eu venho falar um pouco
sobre O pedido de desculpas, livro de Eve Ensler e o primeiro
livro da nossa parceria com a Editora Cultrix.
Este foi um livro que demorei
a ler e demorei a fazer a resenha. Apesar de curto (apenas 128 páginas) e de
uma leitura fluida, suas palavras fortes e cheias de dor e angústia,
arrastam-nos lentamente pelas páginas. Não foi uma leitura fácil, confesso. Mas
foi uma leitura mais que necessária. Vamos conhecer um pouco da história?
Eve sofreu abuso sexual,
físico e psicológico pelo pai na infância. Enquanto ele estava vivo não recebeu
um pedido de desculpas. Cansada de esperar, ela resolveu escrever seu próprio
pedido de desculpas, como se fosse seu pai. Por meio de um texto sucinto e
revelador, em uma carta franca, cujo narrador é seu próprio algoz, a autora
traz um olhar libertador sobre o tema do abuso feminino, seja ele de ordem
sexual, moral ou material.
Nesse texto, catártico e
libertador, conhecemos um pouco da personalidade do pai, sua adoração pela
filha e todos os abusos físicos e psicológicos cometidos por ele, desde muito cedo,
num relato comovente que ora nos deixa com muita raiva e ora nos deixa com
muita tristeza. Seria difícil descrever com palavras todos os sentimentos que
me atravessaram durante esta leitura.
Eve apanhava várias vezes por
simplesmente não se submeter ao que o pai desejava. Ao longo da narrativa podemos
ver a evolução dela e perceber como ela entendeu que era seu desespero que
alimentava a violência dele. Como Eve escreveu a carta como se fosse seu pai, a
visão que temos dela em alguns momentos é deturpada. Entretanto, “ele” não
tenta se justificar sobre os abusos que cometeu algo positivo diante de todo o
cenário. Foram muitos momentos difíceis e ainda assim, ela conseguiu uma força
interna invejável, o que nem sempre acontece com todas as mulheres que passam
por isso.
Apesar de tudo isso, a escrita
vem aqui como uma forma de ressignificar as dores e a violência, mostrando que
nada disso é capaz de nos definir, de nos calar ou apagar. Eve faz uma
reconstrução dessa infância e ressurge e se reinventa através da escrita. As
cicatrizes ficam, é claro, mas há um apaziguamento da dor pela renovação de si
mesma através da reescrita de sua própria história.
Escritora best-seller
publicada em 48 idiomas e dramaturga com peças interpretadas em mais de 140
países, Eve Ensler foi escolhida uma das “150 Mulheres que Mudaram o Mundo”,
pela revista norte-americana Newsweek e uma das “100 Mulheres Mais Influentes”,
segundo o jornal britânico The Guardian. Percorre o mundo lutando no ativismo
contra a violência de gênero e insere
mais um capítulo de sua luta com este
livro.
É uma história que precisa ser
contada, pois somente assim outras mulheres, vítimas de quaisquer tipos de violência,
podem também abrir a boca e trazer nas palavras a chave de sua libertação.
Agente Charlotte, de Helena Grillo Miranda
Quem me conhece sabe que o gênero policial é um dos meus gêneros favoritos. Além disso, cada vez tenho buscado ler mais autores nacionais e conhecer um pouco mais de nossa produção, que muitas vezes é pouco lida, dando mais visibilidade a autores de fora que de nosso próprio país.
Por isso fiquei muito animada ao conhecer a narrativa de Helena Grillo Miranda, com a sua “Agente Charlotte”. Publicado pela Editora Viseu, este livro traz um romance policial com aventura, romance e uma protagonista forte, mas humana, que nos apresenta sua história pessoal, seus conflitos e sua sede de justiça no combate ao crime. Vamos conhecer um pouco desta história?
Charlotte encontra a orfandade muito cedo e por conta disso, tanto ela
como os seus irmãos, Layla e Mateus, são criados pela sua avó no Rio de
Janeiro. Charlotte se torna uma agente federal e é uma excelente policial no
combate ao crime. Focada em seus objetivos e muito comprometida com o que faz. Como
toda policial, a sua vida é sem descanso, sem hora para nada e uma montanha
russa de acontecimentos. Com isso sobrava pouco ou quase nenhum tempo para a
vida pessoal.
“Agente Charlotte” é uma história leve e fluida e de rápida leitura. A linguagem de Helena traz proximidade para seus personagens, que são ricos e multifacetados. Apesar de ser uma narrativa curta, a autora traz reflexões importantes sobre o ser mulher numa profissão encabeçada por homens, sobre o preconceito, sobre as relações familiares e amorosas e principalmente sobre a fé. A fé aqui aparece como um elemento importante e decisivo para a vida das pessoas e a possibilidade de viver conforme a sua fé e seus valores, apesar de todas as marés que nos fazem ir de encontro a nós mesmos.
Acompanhamos o crescimento de Charlotte e suas descobertas e aventuras,
numa narrativa que reúne romance, aventura, drama e um pouco de humor. É uma narrativa
curta, leve e envolvente, que você lê de forma rápida e que te deixa com aquele
gostinho de quero mais. Recomendo!
Sobre a autora:
Helena Grillo Miranda nasceu em 1997 no Rio de Janeiro com uma doença
no coração. Os pais João Luiz Ferreira de Miranda e Maria Alice Grillo Miranda
ficaram desesperados, mas encontraram em Deus a cura. Incentivada pelo pai na
prática do esporte, Helena se tornou faixa preta de judô aos 18 anos, e hoje é
professora no Projeto Social Força Jovem Judô. Formou-se em Comunicação Social
– Jornalismo na Universidade Veiga de Almeida em 2018, mesmo ano em que
publicou seu primeiro livro “A Menina e a Ditadura”. E não parou por aí, em
2019, no mesmo ano em que casou com Hugo Yan Mendonça Gonçalves também publicou
o seu segundo livro “Agente Charlotte”. Hoje, está a caminho de publicar sua
terceira obra "Honra Pirata" pela Editora Coerência.
Redes da autora:
https://www.instagram.com/grupoeditorialcoerencia/?hl=pt-br
https://www.skoob.com.br/usuario/6948170-helena-grillo
Aída, um conto de liberdade, de Mariana Ribeiro
Resistência. Esta é a palavra que
ecoa em nossa mente após a leitura do conto Aída, de Mariana Ribeiro. A narrativa
histórica trazida pela autora nos apresenta uma protagonista negra, forte,
determinada e muito inteligente que não se dobrou ao status quo de sua
época – muito pelo contrário – lutou contra as opressões e dispôs de todas as suas
habilidades para vencê-las.
A história acontece no Brasil
Imperial, no ano de 1850. O Brasil é um país escravagista e os negros livres,
como Aída, ainda corriam o risco de serem novamente escravizados. Aos 12 anos ela
passa por esta cruel experiência e é levada de Salvador para o Vale do Paraíba,
onde vai trabalhar como mucama da esposa do Comendador Fernão de Oliveira
Gusmão. Apesar de sua situação de escravizada, Aída está na casa grande e não
na senzala e esta posição lhe confere alguns “privilégios” e desta forma ela
tem acesso a escrita, leitura, música dentre outras aprendizagens que nesta
época só eram acessíveis às pessoas brancas.
Ainda assim, Aída tinha total
consciência de quem ela era e da necessidade de mudar a sua situação, bem como
a de seus companheiros escravizados que ali viviam. Capturada após uma tentativa de fuga, Aída retorna
à fazenda e se organiza para liderar um levante e partir na luta pela
libertação de negros de outras fazendas e a posterior formação de um quilombo. Mas
ocorrem várias situações não planejadas e a fuga acaba tomando outros rumos...
Apesar de ser uma história curta,
Aída traz em seu bojo diversas discussões pertinentes e necessárias que, apesar
de estarem em um cenário histórico do Brasil Império, são extremamente atuais. As
relações estabelecidas entre Aída e sua “sinhá” Isabel são um destaque que
achei deveras importante, pois ressalta as diversas formas de opressão sofridas
pela mulher e a necessidade da sororidade entre elas.
“Por mais que um abismo social
e econômico nos separe, por mais que nos distingam pela cor da nossa pele,
ainda assim, nós somos mulheres. Temos em comum o fato de sermos impedidas de
viver livremente, cada uma à sua maneira”.
Outro tema trazido pelo conto é a
questão do lugar de fala. Aída criticava os abolicionistas brancos que falavam
pelos negros, mas que não tinham noção das coisas que eles passavam, pois não
estavam ali e nem tinham vontade de estar. Uma crítica pungente ao conhecido papel
do “branco salvador” que tantas e tantas vezes vimos nas mais diversas
histórias trazidas a nós sobre a escravidão e que sempre a contavam sobre uma
única perspectiva.
“...mas eles desconhecem as
nossas dores e isso deslegitima toda a luta dos nossos antepassados, a nossa própria
luta, compreende?”.
Para mim, ler Aída foi a
possibilidade de ter acesso a uma história bem diferente das que já havia lido
sobre a escravidão. Uma narrativa que traz pessoas ativas, guerreiras, que
lutam, resistem, se organizam, anseiam pela liberdade. Uma história de
resistências, acima de tudo. Aliado a isso, a autora traz uma narrativa
histórica bem construída, com uma pesquisa notável e ricas notas de rodapé que
contextualizam o vocabulário e a cultura da época. Aída é uma marca do
protagonismo da mulher negra e uma história de representatividade e força.
Recomendo!
Aída esta disponível como e-book e você pode adquiri-lo AQUI. Ele também está disponível de forma gratuita para os assinantes do Kindle Unlimited.
Sobre a autora:
Mariana Ribeiro é soteropolitana e escreve desde a adolescência, quando criava histórias de próprio punho em cadernos pequenos. Não sabe ainda ao certo de onde vem a sua inspiração, mas as ideias costumam surgir em sua mente quando ela menos espera em um insight rápido e profundo. O seu gênero literário preferido é o Romance Histórico, pois tem certeza de que nasceu no século errado. Relembrar os fatos mais marcantes do passado sempre lhe desperta um sentimento nostálgico de saudade.
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A Tragédia de Hamlet, príncipe da Dinamarca – William Shakespeare, trad. De Leonardo Afonso.
Shakespeare
dispensa comentários e as suas obras são um marco na história da Literatura.
Hamlet, em especial, é considerada como uma das peças mais influentes e
poderosas da língua inglesa. Escrita entre os anos de 1599 e 1601 por William
Shakespeare, Hamlet é considerada uma tragédia.
A peça se
passa na Dinamarca, e conta a história do Príncipe Hamlet que tem como objetivo
vingar a morte do rei Hamlet, seu pai, que foi executado pelo próprio irmão,
Cláudio. Depois de envenená-lo, Cláudio casou-se com a rainha e se tornou rei
daquele país.
Hamlet traça
um mapa do curso de vida na loucura fingida ou na loucura real, explorando
ainda profundamente temas como corrupção, traição, incesto, vingança e
moralidade. Uma obra que fala sobre o ser humano e suas mais nobres ou
detestáveis formas de ser. Essa é a peça mais longa de Shakespeare e, provavelmente,
a que lhe deu mais trabalho.
Você pode ainda
não ter lido o livro, apesar de um clássico, mas com certeza já ouviu as
diversas citações desta obra que permeiam o vocabulário das pessoas, tais como:
“Ser ou não ser, eis a questão” ou “Há algo podre no reino da Dinamarca”.
Eu já havia
lido Hamlet há algum tempo e fazer essa releitura foi uma experiência
prazerosa. Um livro nunca é o mesmo a cada vez que nós o lemos, principalmente quando
se trata de uma nova edição e tradução. Esses atributos podem mudar e/ou ampliar
a sua experiência da leitura e assim foi com esta nova tradução do LeornardoAfonso, com edição da Chiado Editora.
A inserção da
obra se dá pela introdução, onde há uma breve, mas precisa apresentação do
autor e da obra, inserindo-o no contexto do teatro elisabetano. A tradução
apresentada por Leonardo é toda em prosa, com as exceções dos poemas e canções.
Essa escolha busca um olhar atento para o conteúdo da obra e seu significado,
deixando assim de prender drasticamente à forma para absorver melhor e refletir
a história em si.
A escolha
vocabular também mostra um equilíbrio da tradução, não deixando de situar a
obra em uma esfera conservadora, mas trazendo um Shakespeare mais próximo e
mais compreensível também, o que dá leveza tanto para os leitores incipientes como
para os leitores mais conhecedores do autor. Por fim, as notas de rodapé,
apresentadas ao longo da obra, contextualizam a mesma, explicitando o contexto
e trazendo à luz as muitas referências feitas pelo autor.
Reler Shakespeare é sempre um prazer, mas a tradução de Leonardo Afonso costura como se fosse a quatro mãos esta narrativa e amplia a obra, trazendo para o leitor uma leitura confortável e prazerosa. Acima de tudo, aproxima a leitura clássica do leitor comum, desmistificando o título de inacessível e popularizando obras importantes da Literatura para todos os tipos de leitores. Recomendo!
*livro gentilmente cedido em parceria com a Oasys Cultural