Girassóis estendidos na chuva, Louise Queiroz
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Resenha
Fico pensando por que demorei
tanto tempo para escrever esta resenha. Tenho uma dificuldade grande em
escrever sobre as coisas que me fazem bem, que gosto muito. Acredito que pelo
fato de ficar encharcada delas e não ter o discernimento necessário para expor
todos os motivos pelos quais estas mesmas coisas me afetaram tanto. E assim foi
com a poesia de Louise Queiroz.
Descobri o livro por acaso, numa
banca da editora Paralelo 13S, uma editora baiana, encabeçada por uma mulher,
num evento literário onde eu estava. Vi que era poesia e comprei, encantada
apenas pela ideia dos girassóis estendidos. Logo depois eu descobri que haveria
um clube de leitura em minha cidade e ...o livro da Louise seria discutido.
Li o livro em doses curtas de
encantamento e suspiros. Louise tem uma maestria em trabalhar com as palavras,
suas formas e sons, seus significados e silêncios. Seus poemas nos levam a
lugares distantes dentro e fora de nós. Há encontros com a natureza e
ancestralidade, com o sagrado, com as dores e as alegrias trazidas pelos muitos
sentimentos que nos habitam e pela força da palavra, que dita ou silenciada,
sempre traz algo que serpenteia por dentro da gente.
Nesse ritmo, entre sons do
ancestral e da natureza, da terra-corpo e da memória, a autora costura as
palavras com os silêncios. Como ela mesmo nos diz: “Estar em silêncio é fazer
um movimento de escuta, deixando ecoar internamente todas a vozes - as
ancestrais e as nossas – e, a partir daí dar corpo e fluidez à palavra.”
O clube de leitura Passos entre
Linhas, organizado pela maravilhosa Lorena, foi um bônus da leitura. Louise
estava lá, com sua voz mansa e suave de pessoa tímida, conversando sobre o seu
processo de escrita, seus sentires, suas memórias e vivências. O livro se
estendeu maior ainda após esta partilha. Vim para casa com o coração quente e
aconchegado nessa coisa boa que é a poesia.
As palavras de Louise sempre me
acompanham por agora. Vez por outra, adoço a vida e o dia com um poema que leio
ao acaso, que leio sem querer ou que leio intencionalmente. As palavras
continuam vivas e os silêncios mais ainda. E me remodelo e me encontro com o
que nos une e nos transforma: a terra, a mulher, a poesia, a palavra.
Pós Memória
Meu corpo
Geme de uma dor antiga
Tem bem mais de vinte e cinco anos
Cada cicatriz morta ou rígida.
(onde estala e expande
Todas aquelas vozes esquecidas)
Meu silêncio
Matura o que não é cautela, mas medo
Desse lugar onde nunca e sempre estive.
Mulher negra e lésbica, estudante de Letras na Universidade Federal da Bahia, nascida e criada em Salvador. Em 2016 publicou pela primeira vez no livro Enegrescência – Coletânea poética e no mesmo ano participou do Cadernos Negros 39 – poemas afro-brasileiros.
instagram da autora: https://www.instagram.com/_dasaguas/contato: louisequeiroz1@gmail.com
Para adquirir o livro: www.livrariabotocorderosa.com/loja
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Ó, é claro que o livro é um encanto - adorei os poemas que tu me mandou, o que gravou ❤
ResponderExcluirMas, essa sua resenha está ainda mais bonita: "E me remodelo e me encontro com o que nos une e nos transforma: a terra, a mulher, a poesia, a palavra."
Olha isso! ❤ [no lugar do zóio, tome aqui mi corazón, rááá]
Oi, Ilmara!
ResponderExcluirQue resenha cheia de sentimentos! Às vezes é difícil mesmo colocar em palavras o quanto certas coisas nos tocam, mas você conseguiu! :)
Beijos, Entre Aspas
Obrigada, Carla! ;)
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