Chapeuzinho Esfarrapado e outros contos feministas do folclore mundial, Ethel Johnston Phelps
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Resenha
As
histórias são importantes. Elas estão entre as primeiras coisas que escutamos.
Era uma vez, a mãe ou o pai sussurra para o bebê. E uma história começa. (...).
As histórias são importantes. São importantes por serem espelhos e janelas. Pelas
realidades que refletem e as aspirações que iluminam. Pelos meninos e pelas
meninas. Pelas mulheres e pelos homens. São importantes porque, depois de
milhares de anos, ainda são a maneira como explicamos quem somos e quem
desejamos ser.
Gayle
Forman
Sinopse: Quem disse que as mulheres nos contos de fadas são sempre donzelas indefesas, esperando para ser salvas pelo príncipe encantado? Esta coletânea reúne narrativas folclóricas do mundo inteiro — do Peru à África do Sul, da Escócia ao Japão — em que as mulheres são as heroínas das histórias e vencem os desafios com esforço, coragem e muita inteligência. Este livro é para todo mundo que não se identifica com as princesas típicas dos contos de fadas. É para garotas e garotos, para que todos possam aprender que as maiores virtudes de um herói não são exclusivas a um só gênero. Enriquecida com textos de apoio e ilustrações modernas, esta edição é uma fonte inestimável de heroínas multiculturais — e indispensável para qualquer estante.
Chapeuzinho
Esfarrapado e outros contos feministas do folclore mundial
Organização:
Ethel Johnston Phelps
Ilustrações:
Bárbara Malagoli
Tradução:
Júlia Romeu
Editora:
Seguinte
Ano:
2016
246
páginas
Toda produção literária traz
consigo um caráter histórico e social que, de certa maneira, determina e dá
forma ao seu conteúdo. A Literatura expressa através de suas histórias um pouco
do mundo em que ela está imersa, bem como as relações que se travam neste
espaço. Antes mesmo de existir a escrita, a Literatura se consolidava nos
relatos orais que iam passando de boca em boca e expressavam em suas histórias
um pouco das relações sociais e construções de identidade. Assim também foi com
os contos folclóricos e de fadas.
Na maioria dos contos que
conhecemos, o que parece é uma imagem de mulher que é submissa e passiva, ou
então malvada e raivosa. Os grandes heróis e protagonistas dos contos são os
príncipes, que salvam as moças de tenebrosos perigos e casam-se com elas, tornando-as
“felizes para sempre”. Tais histórias reforçam modelos vigentes de gênero que
delegam à mulher um papel menor, onde não podem ser heroínas, ou fortes, ou
independentes e desta forma, reproduzem o machismo que vemos cotidianamente nas
relações e nos espaços, que tanto limitam e ferem a mulher e o feminino.
Não costumamos ver/ler contos
onde as mulheres desempenham outros papeis, mas eles existem! E é justamente o
que “Chapeuzinho Esfarrapado e outros contos feministas do folclore mundial”
vem mostrar. Trata-se de uma coletânea
organizada por Ethel Johnston Phelps, de 25 contos folclóricos das mais
variadas partes do mundo. São histórias milenares, algumas mais conhecidas,
como a clássica “Três mulheres fortes”, muito disseminada na cultura japonesa,
e outras nem tanto, já quase esquecidas.
Embora a maioria dos contos
seja de regiões da Europa, há também contos do Sudão, da Costa do Marfim; do
Punjab, da América do Norte, etc. A
grande diferença nesta obra é o fato de encontrarmos nela mais de 50 mulheres e
meninas que são protagonistas e revelam-se em personagens bem diferentes dos
que costumamos encontrar nos contos folclóricos tradicionais.
Os contos são de temas mais
variados possíveis: Há contos românticos, contos sobre família e comunidade,
contos sobre inteligência e humor, contos sobre velhas, etc. Em todos eles
vemos as personagens femininas ocupando espaços ou desempenhando ações como
resolver enigmas, ser forte (tanto psicologicamente quanto fisicamente), salvar
reinos ou até mesmo ajudar seus companheiros a enfrentar diversos perigos.
Outro ponto importante diz
respeito aos contos sobre mulheres idosas, um tema quase invisível nos contos
mais conhecidos. A velha quando aparece, sempre é a bruxa, representação da
maldade. Nesta obra, as velhinhas são fortes, independentes e muito espertas.
Mostrando assim ao leitor uma visão bem diferente do idoso, como alguém que é
capaz e presente.
O intuito dessa coletânea é
mostrar outras representações da mulher e do feminino, ampliando assim, para
crianças e adolescentes, as possibilidades de identificação. É uma obra de
leitura muito fluida, envolvente e com histórias bem diferentes. Conta ainda
com lindas ilustrações e capa da artista Bárbara Malagoli, e materiais
adicionais como uma introdução e posfácio falando sobre os contos. Além disso, inicia
com um prefácio lindo da Gayle Forman, que eu coloquei um trecho lá no começo
da resenha.
É um livro indicado para
meninos, meninas, jovens, adultos e principalmente para pais e professores. Esta
obra mostra que a Literatura continua sendo um instrumento e uma finalidade. Abre
possibilidades para que o leitor amplie suas formas de ver o mundo e se ver,
contando histórias e recontando a sua própria história. Mostra
as possibilidades do gênero, as possibilidades do ser mulher, de ser feminina e
ressalta que elas não se engessam nem no corpo, nem na aparência ou nas
escolhas. Antes, amplia as possibilidades de ser. Mostra que as menina/mulher(s)
podem ser heroínas, princesas, ou que mais quiserem ser.
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