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  • Eu me possuo, Stella Florence

    SinopseO fato de eu ter me sentido atraída por você, ter ido a sua casa, ter desejado transar com você, não significa que você poderia me violentar. Desejar um homem não é o mesmo que desejar ser estuprada por ele. Você disse que tem ido ao meu bar a m de se desculpar por alguma má impressão que tenha deixado em mim. Você não deixou uma má impressão, Gustavo. Você cometeu um crime. Talvez agora você me pergunte por que eu não te denunciei já que você é um criminoso. Naquela noite, eu dei um nó no meu vestido para disfarçar o rasgo que você fez e me limpei como pude no elevador. Fiquei perambulando pela rua meio tonta, depois entrei num táxi e fui para casa da minha avó. Fui direto para o chuveiro limpar aquilo de mim. Me senti suja, me senti culpada, me senti inferior, me senti até ruim de cama: carreguei por muito tempo acusações que serviam para você, não para mim. Minha falta de experiência me fez acreditar que a culpa era minha, que eu apertei algum botão maldito em você e que talvez sexo fosse aquele horror mesmo. Por isso eu me mantive em silêncio. Mas meu corpo gritava!”

    Olá, amigos leitores! Tudo bem com vocês? 

    Hoje eu trago a resenha de um livro leve, mas que aborda um assunto forte e muitas vezes colocado para baixo do tapete, que é a violência sexual contra a mulher, sendo mais específica, o estupro. Stella Florence trouxe-nos uma história bem escrita e com uma protagonista forte, para falar deste problema que, embora pouco discutido, é muito mais comum do que podemos imaginar. 

    Karina é uma jovem estudante de Odontologia, que mora com seus pais e uma irmã mais nova e faz estágio em uma clínica. Em um lar onde a mãe é conservadora e submissa,   o pai a vê como um receptáculo de expectativas e a irmã só serve para implicar com ela, é na avó materna, Evelyn, que Karina encontra o repouso e fuga de sua realidade não tão satisfatória. Karina se vê a cada dia mais desencantada com a sua rotina de faculdade/estágio/casa e sente dentro de si um anseio pela  liberdade de fazer coisas diferentes, embora ela não saiba bem o quê. 


    Um dia, sua amiga Renata pede a sua ajuda para suprir a falta de um funcionário e Karina logo se encanta com a vida noturna, as pessoas e a experiência de realizar um trabalho tão diferente de tudo o que faz. Com a presença cada vez mais constante no bar, Renata conhece muitos homens e tem relações fortuitas que se resumem a um drinque, uma conversa breve e sexo. Karina aos poucos vai percebendo-se, revelando-se, permitindo-se e tomando de volta esse corpo que durante muito tempo não era mais  seu. Muito além de liberdade sexual, Karina tenta reaver-se, retomar a si mesma. Se pertencer novamente. 

    Karina sofreu um estupro em seu aniversário de 17 anos. Ela não foi estuprada por um estranho. Seu algoz era alguém que ela admirava, desejava até. Desde então, ficou aprisionada nessa dor  e carregando, além dela, culpa e vergonha. Aos poucos Karina vai fazendo mudanças em sua vida, que vão desde o cabelo até os caminhos profissionais. Sua relação com as pessoas também muda e ela vai aos poucos afirmando-se quem é em todos os setores de sua vida. 

    Tudo parece estar indo bem, até que  Gustavo, o homem que a estuprou, aparece novamente em sua vida. Para ele o que ocorreu não foi um estupro. Ele não se enxerga como um estuprador. Um retrato fiel do que vemos hoje em dia, a violência escamoteada pela cultura do estupro.  Porém, Karina não se abate com isso. Não mais. Após uma conversa com Gustavo ela escreve uma carta. Como numa catarse, ali ela confronta-o com a violência praticada e deixa para trás a culpa e a vergonha que carregou durante tanto tempo. É um ato simbólico e libertador, que dá de volta a Karina as rédeas de sua vida. 

    Apesar do tema ser pesado, a escritora traz uma leveza em sua narrativa e constrói a personagem e a história de forma sólida e verossímil, dando um enfoque maior ao processo de mudança e empoderamento de Karina, do que ao ato de violência que ela sofreu. Isso deixa a escrita fluida e interessante. Os capítulos da narrativa são curtos, de modo que a leitura ocorre de forma bem rápida. 

    A diagramação é muito bem feita, com páginas  em papel amarelo e uma fonte de tamanho muito confortável para a leitura. A capa também me deixou encantada, pois é simples e ao mesmo tempo bonita, representando a libertação de Karina, que sai de uma "gaiola" para a liberdade de poder ser quem é, sem culpa e sem vergonha. Só achei que do meio para o final a narrativa se tornou rápida demais, com alguns acontecimentos aparecendo  de forma muito abrupta. Creio contudo que o foco era mesmo este processo de mudança da personagem e nisso a autora cumpriu o seu objetivo.

    Eu me possuo é uma leitura necessária e mais que indicada. Em tempos de misoginia e machismo exacerbado, nunca é demais deixar claro que a culpa jamais é da vítima e que ninguém pode ou tem esse direito, ainda que seja um namorado, um ficante ou um marido. Stella Florence nos traz uma mensagem de esperança, superação e empoderamento feminino, mostrando-nos que sempre é possível recomeçar e seguir em frente, apesar dos machucados e das dores que a vida nos deixa. 



     Um pouco mais sobre a autora: 


    Stella Florence é escritora, tem 1 filha, 10 livros, 30 tatuagens e 25.000 seguidores no Facebook. É autora dos sucessos: Hoje acordei gorda, O Diabo que te Carregue!, 32 e Os Indecentes, entre outros. Cronista veterana – Criativa, Bolsa de Mulher, Ouse, iTodas –, hoje escreve semanalmente para o site da revista Top Magazine. Vive em São Paulo.

    site: www.stellaflorence.net
    Fanpage: https://www.facebook.com/escritora.stellaflorence/
    Instagram: @escritora.stellaflorence
    Twitter: @Stella_Florence
    YouTube: https://www.youtube.com/user/stellaflorencewriter




    6 comentários :

    1. Ilmara, querida, obrigada pela leitura atenta, pela sensibilidade, carinho e inteligência! De fato, a carta da protagonista a Gustavo Jota, seu estuprador, "é um ato simbólico e libertador, que dá de volta a Karina as rédeas de sua vida". Beijo!

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      Respostas
      1. Muito feliz que gostou da minha resenha! Obrigada a você pela possibilidade e pelo caminho traçado com a tua escrita. Beijos! ;)

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    2. Parece ser um livro bem intenso, com um assunto ainda meio polêmico.
      Gostei muito da resenha e fiquei super interessada em ler o livro.
      Beijos, Aline
      Verso Aleatório

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      Respostas
      1. Oi Aline! Que bom que gostou! O livro é leve e bem conduzido, apesar do tema ser forte, é uma ótima leitura. Beijos e obrigada pela visita!

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    3. Oi Ilmara,

      Realmente é um tema polêmico, mas necessário. Apesar de vc citar a leveza parece ser um livro denso! Gostei da dica!

      Bjs, Mi

      O que tem na nossa estante

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      Respostas
      1. Oi, Mi! É denso mas a maneira como a Stella trouxe a narrativa, focou na possibilidade de vencer as limitações, então é uma mensagem de esperança tbm. Obrigada pela visita! Beijos!

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